quarta-feira, 19 de junho de 2013

Quinta feira

Não parece mas há muito tempo atrás era só eu. 
Antes das noites em claro, das verdades e mentiras, antes das bebidas... era apenas eu com o mundo me encarando de frente, aquele nó no estomago, aquela ansia infinita por viver tudo ao mesmo tempo e de uma vez. Quanto mais jovem maior a vontade de experimentar o mundo e antes de hoje eu tinha isso, o frio na barriga, o mundo e eu.. só isso.
Sentada na frente do computador digitando essa sopa de letrinhas tenho a impressão de que foi há um milhão de anos todas as primeiras coisas. O primeiro segredo, o primeiro amigo, o primeiro beijo, a primeira casa, o primeiro cigarro, o primeiro porre, mas isso não faz tanto tempo assim porque faz pouco mais de uma década (se bem me lembro) onde tudo o que existia era eu e a vontade de ter todos esses primeiros. Aqui estou, todo esse tempo depois digitando do meu antigo quarto, o lugar onde me criei e é como entrar em uma máquina do tempo com paredes rabiscadas e papéis de bala no chão.

É tão engraçado estar de volta, depois de tantos anos me vejo parada encarando tudo que um dia foi tão meu, tudo o que quis proteger e não era mais meu. São memórias emprestadas de uma garota diferente e que agora volta a ser tudo aquilo que jurou não querer mais pra si. A periferia tem esse ar de nostalgia, o conjunto habitacional, as crianças correndo pela rua com suas pipas no ar, como se os anos não tivessem passado. Tudo igual aos anos em que estive aqui.
Foram bons momentos, maus momentos, foram anos da minha vida que não posso apagar e nem gostaria porque provavelmente faria tudo igual e o doce continuaria doce, e o que doeu doeria de novo, tudo seria exatamente como é e me traria aqui de novo no olho do furacão de emoções.

Antes dos sorrisos, das primeiras e segundas vezes era apenas eu encarando a vida... acho que sinto falta de olhar tudo como se fosse novidade, porque viver já não é tão novo assim. Vai ser, mas não é mais porque vivi rápido demais. Jovens e a sua sede insaciável por novidades, por vida! Acaba sempre se afogando num mar de emoções que nem sabe de onde vem ou pra onde vai, só quer que vá, então as coisas acabam indo porque tem que ir, porque nós fazemos acontecer mas quando o hoje chega (e ele sempre chega) desejamos secretamente que tivessem ido mais devagar afinal, a vida é tão longa e temos todo o tempo do mundo para fazer com que as coisas aconteçam, não é necessário tanta pressa.

Antes de estarmos onde estamos era apenas o que voce costumava ser, sem máscaras e responsabilidades, apenas você do jeito que costumava ser. Um dia você vai voltar ao início porque a vida é assim, um ano pra frente e dois meses pra trás.
Entenda como quiser.

sábado, 15 de junho de 2013

010413

Se eu estivesse em um filme seria a coadjuvante do lado mau, aquela que nunca tem forças para ser a antagonista mas não pode ser do time dos bonzinhos.
Sempre existe uma personagem que erra e acerta mas ninguém está interessado nela e essa sou eu, a quer atenção mas nunca conseguirá porque não é forte ou carismática o suficiente para isso.



Existem os mocinhos, os bonzinhos, os antagonistas, os malvados e os outros.
Os outros são aqueles que namoram os bonzinhos mas no fim da história não ficam com eles porque não seria o final feliz. A moça que faz cagadas, pede perdão e nunca é perdoada porque ninguém a julga merecedora de perdão; o cara que comete o erro comum mas paga por eles com a severidade mais real possível; a moça que é traída e, apesar de não ter errado, não é digna de pena porque esse término resultará na felicidade dos mocinhos. Essa sou eu.
Em todo o filme alguém fica sozinho e ninguém se importa porque você não se lembra do nome dele, a existencia dele serve apenas para que o bonzinho enfrente uma dificuldade antes de encontrar o seu "e viveram felizes para sempre", todos sabem que ele existiu e que foi (ou pode ter sido) fundamental para a história se desenrolar mas ele não ganhou um final feliz para sempre. Na verdade você não sabe qual foi o final dele e, caso saiba, não se lembra mas ele esteve ali.
Essa sou eu, a personagem que merece perdão mas todos se encarregam de inventar uma desculpa para não perdoa-la porque isso atrapalharia os mocinhos, os bandidos e todo o resto.

Sempre existe alguém que perdoa os erros de quase todo mundo mas nunca é perdoado, sempre tem alguém que é o coadjuvante indiferente, alguém tem que fazer esse papel. Alguém tem que estar ali, atrapalhando os planos dos outros para que no fim eles tenham o seu "feliz para sempre" e mesmo que ninguém queira ser, não tem jeito. Você é o que tem que ser e não o que quer ser, o mocinho de coração ruim nunca será amado como o vilão de coração bom, ninguém nunca arranjará desculpas para que ele seja absolvido.
Algumas pessoas tem a torcida a seu favor e outras, bem, outras apenas fazem o que tem que fazer.